"Sempre conservei uma aspa à esqueda e à direita de mim." - Clarisse Lispector

domingo, 22 de agosto de 2010

Pare, olhe, leia E PENSE!

   Minhas próprias amigas me chamaram de louca e insuportável, mas elas tinham toda a razão: eu era realmente louca e insuportável. Mas que mulher não seria louca e insuportável ao lado de um homem que, sempre sorrindo para disfarçar que é humano, sempre em bando para disfarçar que sente fraquezas e sempre dormindo para disfarçar que está vivo, não tem a menor idéia do que quer fazer agora, daqui dez horas e daqui dez anos? Que mulher não ficaria insana e desequilibrada ao lado de um homem que diz com a boca que ama mas não diz com os olhos, que diz com a boca que está ali para o que der e vier, mas não diz com os atos? Que mulher não ficaria infeliz e depressiva ao lado de um homem que não a beija na boca mais de quinze segundos porque o celular está tocando, que é incapaz de passar um fim de semana ao lado dela sem levar toda a trupe de meninos crescidos, que é incapaz de olhar nos olhos dela, um segundo que seja, e sentir que não precisa de mais nada? Que mulher não piraria e não ficaria chata ao lado de um homem cheio de músculos mas sem nenhuma força para ser um homem melhor? Não, eu não queria o homem perfeito que eu idealizei não, eu só queria um homem de verdade.
   Eu não coloco nele toda a minha felicidade, eu não quero mandar nele, eu não quero que ele deixe de ver a Lua ou curtir o Sol, eu só queria que ele demonstrasse com atos metade do que ele disse que me ama. Ou metade do que eu amo.
   Que mulher não seria digna de uma camisa de força ao ver que o homem que ela ama é o maior de todos os homens por dentro, mas insiste em ser um idiota, cercado de coisas, palavras, musicas, lugares e pessoas idiotas, por fora? Que mulher não babaria tomando choques na cabeça, ao saber que O HOMEM MAIS SENSÍVEL, PURO E LINDO DO MUNDO, INSISTE, POR MEDO QUE O MACHUQUEM, EM SE FAZER DE INVENCÍVEL E CAGAR PRO RESTO DO MUNDO?

   Eu só queria ganhar uns beijos e alguns olhares de amor, só isso.



         
           ( O resto do texto será publicado no momento certo )

Limite


   Desisti. E isso é a coisa mais triste que tenho a dizer. Não brigo mais com a vida, não quero entender nada. E eu seguia brigando. Querendo o mundo do meu jeito. Na minha hora. Querendo consertar a fome do mundo e o restaurante brega. Algo entre uma santa e uma pilantra. Desde que no controle e irritada. Agora, não quero mais nada. De verdade. Atropelei o mundo e eu mesma. Tanta coisa dentro do peito. Tanta vida. Tanta coisa que só afugenta a tudo e a todos. Ninguém dá conta do saco sem fundo de quem devora o mundo e ainda assim não basta. Eu simplesmente me recuso a repassar a história, seja ela qual for, pela milésima vez. Deixa a vida ser como é.

sábado, 14 de agosto de 2010

     "Eu tenho duas amigas lindas, e no máximo três amigos que me consolam, mas eu precisava só de você aqui, e agora a ficha caiu: Você não vai poder ser mais meu. Que merda de vida é essa?" - Tati Bernardi

sexta-feira, 13 de agosto de 2010

Meu herói



   Meu pai nunca me tratou como uma menininha. Ele me ensinou a andar de bicicleta, a jogar bola, comer bobeira na rua, nunca teve aquela frecuragem típica de mãe de passar protetor solar de 15 em 15 minutos na praia. Nunca ouvi história de Chapeuzinho Vermelho, Rapunzel ou Os Três Porquinhos, ele me ensinou a gostar dos mistérios do Chupa Cabra e das aventuras do Boneco Assasino. Antes de dormir, meu pai não lia livrinhos prontos, mas me fazia inventar histórias. Ele me deu a capacidade de sonhar. Acho que ele nunca soube de coisas tão pequenas que eu dedico um espaço enorme dentro de mim para guardá-las. 
   Vejo tantas pessoas com nojo disso e daquilo, com medo assim ou assado, e imagino como meu pai me deu a oportunidade de me tornar uma pessoa, ao meu ponto de vista,  sem frescuras. Isso é uma das coisas que eu mais admiro e tenho orgulho de falar que aprendi com meu pai, desde a vontade de comer aquele salgado de buteco até não mover esforços para fazer algo que me dá prazer. Não entendo de maquiagem, de moda ou de cabelo, mas se me perguntarem como foi o jogo de futebol do dia anterior sei citar detalhes. Isso é só mais uma das coisas que adquiri com meu pai. Além da aparência exterior ser enorme, a interior cada dia que passa me surpreende cada vez mais com nossa semelhança.

quarta-feira, 11 de agosto de 2010


     Vi um casal de velhinhos surdos brigando de pertinho. O amor é um casal de velhinhos surdos. Pode brigar, mas não vai embora. Fica perto.

terça-feira, 10 de agosto de 2010

Verdades que não precisam ser ditas



     Eu queria que você soubesse, meu amor, que sou dessas loucas. Dessas loucas que vai te chamar de meu amor, mesmo você estando na minha vida há apenas alguns meses. Dessas loucas que vai querer te matar só de pensar que, talvez, daqui cinco anos, você me troque pela "Claudinha", uma menina mais nova e sem as minhas manias insuportáveis que você ainda não conhece. E aí, mesmo eu te conhecendo há apenas uma semana, vou te odiar pelo que vou sofrer daqui a cinco anos. E vou te odiar, sobretudo, porque daqui uma semana, quando você se apaixonar pelas minhas manias insuportáveis, eu vou acreditar que você nunca vai enjoar delas. Eu sou dessas malas sem alça que vai ter ciúme dos seus amigos, dessas pessoas maravilhosas que te conhecem há muito mais tempo que eu. Essas pessoas maravilhosas que serão as primeiras a saber, daqui cinco anos, que você está comendo a vaca da Claudinha. Aliás, eles que vão te apresentar a vaca da Claudinha. Só de pensar nessa puta da Claudinha, sabe o que eu fiz assim que você desligou o telefone ontem? Eu liguei para o Pedro. Depois para o Teteu. Depois para o Willian. E deixei todos de sobreaviso: ando super carinhosa, gatos.
     No fundo, no fundo, não tenho a menor vontade de ser carinhosa com nenhum deles. Mas sou dessas idiotas covardes que quando percebem que estão gostando de alguém, resolvem gostar de vários. Só para banalizar o sentimento. Só para descentralizar a renda. Olha eu, fazendo piadinha meio de esquerda... olha eu, escrevendo meio parecido com você e dando nomes para personagens. Eu sei que gosto de alguém quando esqueço de não gostar tanto de mim. E eu gosto de você, mesmo sabendo que você gosta de mim por pouco tempo.
     Ai amor, amorzinho, amoreco, moreco. Eu odeio esses carinhos, odeio. Mas falo todos eles baixinho antes de dormir, para o espaço ao lado da cama que ninguém ocupa. E eu sou um pouco mais estranha do que ser estranha permite. Sou estranha além do charme de ser estranha. Eu sou sempre cinco anos na frente, eu já começo sofrendo com o fim, eu já tiro a roupa com o gosto meio vazio de resgatar as peças pelos cantos depois. Eu vivo o luto de tudo, antes mesmo de comprar uma roupa colorida pra curtir que você foi embora ontem, querendo voltar. Eu sei que você quer voltar. E eu sei que serei muito feliz por cinco anos, até a puta da Claudinha aparecer. Aquela vaca.
    Pensa bem, meu amor, pensa bem. Eu sou daquele tipinho típico de mulher. Daquele tipinho que rouba o seu celular enquanto você faz seu xixi feliz da vida, achando que conheceu alguém legal. Eu sou daquele tipinho raso, que vai xeretar seu orkut, tentando descobrir o que sua ex tinha que te fez demorar tanto para aparecer na minha vida. E vou odiar toda a sua história, e vou odiar que seus amigos sejam amigos da sua ex, e vou odiar que seus amigos vão adorar contar suas histórias do passado. E vou ficar quietinha, perdida, no canto da mesa. Querendo ligar pro Teteu, pro Willian e pro Pedro. Não que eles sejam melhores do que você, porque não são. Mas eu preciso fugir de você ser tão legal. Porque você é definitivamente muito legal, tão legal que não vai agüentar e me largar daqui cinco anos. Inebriado pela mente menos complexa, pelo peito menos angustiado e pela bunda mais dura. Da Claudinha, claro. Sempre ela.
    Ainda dá tempo. Ainda dá tempo de você se libertar do meu cheiro de perfume, que você gosta tanto. Cai fora, irmão. Cai fora.
    Não demora muito para eu começar a competir com você. E querer ser melhor que você. E querer isso justamente para que você nunca deixe de me admirar. Mas eu, mais uma vez, sem ter medida de nada, vou te sufocar com meu saquinho furado. Meu saquinho onde todo e qualquer amor ainda é pouco. Porque meu vazio é imenso.
    Já imaginou só? Já imaginou quando algum amigo seu apontar e falar: quem é aquela louca ali, berrando no meio da festa e pegando um táxi? E você vai ter de voltar sem graça, e explicar: ela se irritou porque eu peguei a última água com gás sem perguntar se ela queria. É isso o que você quer para a sua vida? É isso? Uma mulher que bebe refrigerante quente em pleno verão do Nordeste receosa pela procedência do gelo? Uma mulher que tem mais medo de vomitar do que de paraglider? Uma namoradinha meiga que a qualquer momento pode soltar 345 palavrões no seu ouvido só porque você tem mais coisa pra fazer da vida do que me idolatrar?
   Combinado, então? Você vai ler agora esse texto, ficar meio tristinho, afinal de contas não é todo dia que se perde uma mulher como eu, mas vai ser forte e terminar tudo. Terminar tudo e ir logo de uma vez conhecer a puta da Claudinha. Essa vaca.
   E aí, daqui uns cinco anos, quando você descobrir que mulher é tudo a mesma coisa, quando você estiver enjoado das manias insuportáveis da Claudinha, quem sabe algum amigo seu não me apresente a você. E quem sabe a gente não é feliz pra sempre?

Pela noite de ontem


     Semana passada liguei pro meu melhor amigo e convidei para uma saída. A gente não se falava desde o ano novo do ano passado, quando tudo deu errado pro nosso lado. De tempos em tempos sumimos, falamos umas coisas horríveis de quem se conhece demais. Ele topou desde que fosse daqui pra frente, preguiça de conversar da briga e tal. E fomos. E com meu coração tão calmo eu voltei a sentir o soninho de sofá de casa com manta que sinto ao lado dele. A gente não se beija nem nada, mas quando vai ver pegou na mão um do outro de tanto que se gosta e se cuida e se sabe. Já tivemos nossos tempos de beijar e passar nervoso e aquela coisa toda de quem ama prematuramente. Mas evoluímos para esse amor que nem sei explicar. Ele me conta das meninas, eu conto dos caras. Eu acho engraçado quando ele fala “ah, enjoei, ela era meio sem assunto” e olha pra mim com saudade. Ele também ri quando eu digo “ah, ele não entendeu nada” e olho pra ele sabendo que ele também não entende, mas pelo menos não vai embora. Ou vai mas sempre volta. Não temos ciúmes e nem posse porque somos pra sempre. Ainda que ele case, more do outro lado do mundo. Somos pra sempre. Ele conta do filme que tá fazendo, eu do livro. Os mesmos há mil anos. Contar é sem pressa de acabar. Se ele me corta é como se a frase que eu fosse falar fosse mesmo dele. É um exibicionismo orgânico, como se meu silêncio pudesse continuar me vendendo como uma boa pessoa. É isso. Ele me viu de cabelo amarelo enrolado. Eu lembro dele gordinho e mais baixo. Minha maior tristeza é que todo novo amor que eu arrumo vem sempre com algum velho amor tão longo e bonito. E eu sofro porque com pouco tempo não consigo ser melhor que o muito tempo. E de sofrer assim e enlouquecer assim, nunca dou tempo de ser muito para esses amores porque estrago antes. Mas meu melhor amigo é meu único amor. O único que consegui. Porque ele sempre volta. E meu coração fica calmo. E ele vai comigo na pizzaria e todos meus amigos novos morrem de rir porque ele é naturalmente engraçado e gente boa e sabe todos os assuntos do mundo. E todo mundo adora meu melhor amigo. E eu amo ele. E sempre acabamos suspirando aliviados "alguém é bobo como eu, alguém tem esse humor" e mais uma vez rimos da piada que foi a nossa velha história infantil. Que bom que mesmo depois de dois anos, você ainda me conheça como a palma de sua mão, me deixando assustada por saber detalhes de mim que nem eu mesma sabia. E esse é meu presente dessa fase tão terrível de gente indo embora. Quem tem que ficar, fica.

domingo, 8 de agosto de 2010


      Eu não sei esperar nada. E a natureza gritando no meu ouvido que então, já que sou birrenta, vou ficar sem nada mesmo. Porque é preciso saber viver. Atiram a gente nesse mundo, nosso coração sente um monte de coisa desordenada, nosso cérebro pensa um monte de absurdo. E a gente ainda precisa ser superequilibrada para ganhar alguma coisa da vida. Como se só por estar aqui, aturando tanta maluquice, a gente já não devesse ganhar aí um desconto para também ser louco de vez em quando.


      Não somos um casal melado, na verdade nem somos um casal, mas duvido que tenha alguém que duvide do nosso sentimento. Quer dizer, a gente duvida, mas a gente é louco. E o homem perfeito teria a maior paciência do mundo em me curar dessa loucura, e você tem a maior paciência do mundo em aumentar a minha loucura. Você pode não ser o homem perfeito de boa-vida, mas certamente eu o trairia com você, porque no fim desses dias a única vontade que eu tenho é de deitar no seu peito e sentir seu cheiro, te dando mil beijos, olhando dentro dos seus olhos e dizendo o quanto nenhum dos homens que eu tive chegaram aos seus pés, nenhum deles chegaram onde você chegou. Te amar não é fácil, é quase o anti-amor. Eu nem consigo dizer pra você desse amor, por medo da minha loucura e intensidade atrapalhar o que nós construimos nesse tempo com tanta calma. É muito, quase como se você nem existisse, porque só o homem perfeito mereceria tanto sentimento. E eu te anulo o tempo todo dizendo para mim, repetindo para mim, o quanto você falha, o quanto você fraqueja. E fazendo isso, eu só consigo te amar mais ainda. Porque você enterrou meu sonho aprisionado pela perfeição e me libertou para vivê-lo. Me fez perceber que entre qualquer homem do mundo eu escolheria você. E a gente vai por aí, se completando assim meio torto mesmo. E Deus escrevendo certo pelas nossas linhas que se não fossem tão tortas, não teriam se cruzado.

Que não se acabe nunca



        E consegue tudo de mim. Consegue até o que ninguém nunca conseguiu: me deixar leve. Sabe rir mole de bobeira? Sabe dançar idiota de alegria? Sabe dormir gemendo de saudade? Sabe tomar banho sorrindo para a sua pele? Sabe cantar bem alto para o mundo entender? Sabe se achar bonita mesmo de pijama e olheiras? Sabe ter ânsia de vômito segundos antes de vê-lo e ter fome de mundo segundos depois de abraçá-lo? Sabe não aguentar? Sabe sobrevoar o frio, o cinza, os medos, os erros e tudo que pode dar errado? Eu quero parar com tudo isso, ele é um menino que não pode acompanhar minha louca linha de raciocínio meio poeta, meio neurótica, meio madura. Eu quero colocar um fim neste tormento de desejar tanto quem ainda tem tanto para desejar por aí. E aí eu me pergunto: pra quê? Se está tão bom, se é tão simples. Ele me ensinou que a vida pode ser simples, e tão boa.

Bagunças



     A gente finge que arruma o guarda-roupa, arruma o quarto, arruma a bagunça. Tira aquele tanto de coisa que não serve, porque ocupar espaço com coisas velhas não dá. As coisas novas querem entrar, tanta coisa bonita nas lojas por aí. Mas a gente nunca tira tudo. Sempre as esconde aqui, esconde ali, finge para si mesmo que ainda serve. A gente sabe. Que tá curta, pequeno, apertado. É que a gente queria tanto. Tanto. Acredito que arrumar a bagunça da vida é como arrumar a bagunça do quarto. Tirar tudo, rever roupas e sapatos, experimentar e ver o que ainda serve, jogar fora algumas coisas, outras separar para doação. Isso pode servir melhor para outra pessoa. Hora de deixar ir. Alguém precisa mais do que você. Se livrar. Deixar pra trás. Algumas coisas não servem mais. Você sabe. Chega. Porque guardar roupa velha dentro da gaveta é como ocupar o coração com alguém que não lhe serve. Perca de espaço, tempo, paciência e sentimento. Tem tanta gente interessante por aí querendo entrar. Deixa. Deixa entrar: na vida, no coração, na cabeça.

domingo, 1 de agosto de 2010

Presente de Deus

Dizem que nossa vida depende de quem escolhemos para compartilharmos tudo o que nela acontece, e eu digo com toda certeza que se levar em consideração essas minhas escolhas, não vou poder reclamar da vida por um bom tempo. Mesmo sem pedir, pessoas entram na nossa vida, e ocupam lugares enormes em nosso coração. Foi bem isso que aconteceu, eu nunca poderia imaginar que aqueles nossos desabafos fossem ser base para construir algo tão verdadeiro e recíproco.  É muito mais que um sentimento de amizade, é como se fosse um amor fraterno, pois eu te protejo como se fosse minha irmã, sou capaz de mover céus e terras para não te ver sofrer por um segundo sequer, é realmente amor de irmã, como se eu te conhecesse desde o dia que você nasceu, e de fato eu te considero como uma irmã. Amizade é muito mais do que compartilhar momentos bons e ruins .. é por um simples olhar saber em detalhes o que se passa com a outra, é ficar fazendo graça pra poder tirar um simples sorriso do seu rosto em uma situação ruim, é poder ter a certeza que mesmo que o mundo desabe, eu posso olhar pro lado e saber que você tá ali comigo. Sei que hoje não é nenhuma data especial pra mim estar falando tudo isso, não é seu aniversário, dia do amigo nem nada, mas é que me deu uma vontade enorme de dizer que eu agradeço todo santo dia por ter entrado naquele cursinho, e agradeço mais ainda ao Papai do Céu por ter me dado a oportunidade de conviver e crescer tanto com você. Você é um anjo, o meu anjinho.

Vale a pena?


    "Sei lá, tem sempre um pôr-do-sol esperando para ser visto, uma árvore, um pássaro, um rio, uma nuvem. Pelo menos sorria, procure sentir amor. Imagine. Invente. Sonhe. Voe. Se a realidade te alimenta com merda, meu irmão, a mente pode te alimentar com flores."
   Caio Fernando de Abreu, como sempre, dizendo verdades difíceis de se ver.

Zilhões de vezes


   Acabo de chegar em casa e ver tudo diferente. Ainda estou com este riso bobo na cara. Pode ser mesmo que isso passe, pode ser que amanhã eu acorde e você tenha ido embora. Ainda assim, ainda que amanhã chegue para estragar tudo, poder chegar em casa e ver tudo diferente já são milhões de quilômetros rodados. Zilhões. Você não sabe, nem sonha, mas você acaba de zerar minha vida. Minha vida era acordar todos os dias e sentir aquele gosto de merda na boca. Minha vida era vestir a armadura e relembrar com dor pela milésima vez todos os últimos podres de todas as pessoas podres que passaram ultimamente pela minha vida. Você acaba de zerar tudo. Com a parte mais quente das suas costas e com o seu medo de beijo na orelha você acaba de me salvar. Este texto é pra te falar uma coisa boba. É pra te pedir que não tenha medo de mim. Sabe esses textos que eu já te mandei falando mil e uma coisas? Sabe esses textos falando que eu sei disso e sei daquilo? Eu não sei de nada. Eu só queria ser salva das pedras, eu só queria aprender a pegar carona nas ondas. Eu só queria que isso que eu tô sentindo agora durasse mais de uma semana. Eu só queria poder chegar em casa e ver tudo diferente. Ver tudo bonito. Ver tudo como de fato é. E você salvou minha vida. O mundo está lindo. Não tenha medo de mim. Eu só queria que esta minha vontade de perdoar o mundo durasse. Hoje eu não odiei o sol no meu olho, a Claro, meus pais, o vizinho com o som alto, o carro que estragou, aquele cara que você sabe quem é. Hoje eu não odiei nada nem ninguém. Eu apenas fiquei lembrando, a cada segundo, que você me ligou com a voz mais linda que eu já ouvi, e me chamou de "minha linda". E você salvou meu dia, minha semana. E salvar meu dia já são zilhões de quilômetros.
    Não tenha medo deste texto. Não tenha medo da quantidade absurda de carinho que eu quero te fazer. Nem de eu ser assim e falar tudo na lata. Nem de eu não fazer charme quando simplesmente não tem como fazer. Nem de eu te beijar como se a gente tivesse acabado de descobrir o beijo. Nem de eu ter ido dormir com dor na alma o fim de semana inteiro por não saber o quanto posso te tocar. Não tenha medo de eu ser assim tão agora. Nem desse meu agora ser do tamanho do mundo. Eu estou tão cansada de assustar as pessoas. E de ser o máximo por tão pouco tempo. E de entregar tanta alma de bandeja pra tanta gente que não quer ou não sabe querer. Mas hoje eu não odeio nenhuma dessas pessoas. E hoje eu não me odeio. Hoje eu só fecho os olhos e lembro de você me dizendo sem graça que não sabe como fazer ser especial. Tudo o que eu mais queria, por trás de todos esses meus textos tão modernos, sarcásticos e malandros, era de alguém que tivesse medo de não ser especial. Mas não precisa ter medo, você é mais do que isso.
     Talvez você pense que não merece este texto. Há quanto tempo mesmo você me conhece? Alguns meses? Mas você merece sim. Hoje, depois de muito tempo, eu acordei e não me olhei no espelho. Eu não precisei confirmar se eu era bonita. Eu acordei tendo certeza. Não tenha medo. Eu sou só uma menina boba com medo da vida. Mas hoje eu não tenho medo de nada, eu apenas fecho os olhos e lembro de você com ciumes bobo de mensagens de gente sem importância no meu celular. Eu posso sentir isso de novo. Que bom. Achei que eu ia ser esperta pra sempre, mas para a minha grande alegria estou me sentindo uma idiota. Sabe o que eu fiz hoje? As pazes com as neuroses da minha mãe, com o som do vizinho e até com a atendente da Claro que me deixa falando sozinha. As pazes com os casais que se balançam abraçados enquanto não esperam nada, as pazes com as pessoas que não sabem ver o que eu vejo. E eu só vejo você me ensinando a dar chupão. Eu só vejo você enchendo minha vida de estrelas. Se você puder, não tenha medo. Você salvou meu dia, minha vida, zilhões de vezes.